terça-feira, 18 de maio de 2010

Europa e Mercosul voltam à mesa

ZERO HORA

Encontro de líderes em Madri oficializa negociação para liberar comércio e já marca primeira reunião de trabalho para julho

Uma década depois de iniciadas e após seis anos de suspensão, as negociações para a formação da área de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia foram retomadas. A largada oficial, ontem, em Madri, foi vista por líderes empresariais no Brasil com misto de entusiasmo e cautela.

Mesmo em meio à crise de países europeus e ainda sob o impacto de uma nova disputa comercial entre os dois principais sócios do Mercosul, Brasil e Argentina, a volta à mesa de negociações já foi marcada para início de julho. Entre sorrisos e troca de farpas, os presidentes rotativos dos dois blocos, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciaram a decisão que deve render 5 bilhões de euros na abertura da 6ª Cúpula União Europeia-América Latina e Caribe.

– Fácil não será, mas é preciso fazer. O Brasil e o Mercosul têm muitas ferramentas para negociar, como o contrato de compra de caças, que devem ser os franceses Rafale – avaliou Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), representante do setor potencialmente mais beneficiado.

– Não é importante só pelo comércio, mas também pelo investimento. Do ponto de vista conceitual, é muito bom ter um marco institucional para facilitar essas transações – disse Lúcia Maduro, consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mais teme os riscos da abertura.

Prazo de 10 anos terá fases intermediárias de liberação

Também envolvido nas negociações antes da suspensão, Pedro de Camargo Neto, hoje presidente da Abipecs, da indústria de carne suína, saudou:

– O relançamento deve ser visto como fato positivo. É preciso avançar na construção de maior acesso.

Frederico Behrends, do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), explica que o prazo de 10 anos se refere à meta de alcançar 95% dos produtos e serviços negociados entre os dois blocos. A partir da retomada efetiva, serão definidos prazos para eliminar tarifas imediatamente depois da assinatura do acordo e em prazos intermediários.

Carlos Sperotto, vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ainda irritado com a mais recente barreira argentina, não leva muita fé:

– Não tem como um bloco cindido negociar uma posição comum.

Representante dos industriais na época do rompimento das negociações, Osvaldo Douat também levanta dúvidas sobre a retomada, que atribui a interesses políticos de parte a parte:

– Os dois blocos atravessam uma crise de credibilidade. Assinar acordo no papel é possível, difícil é esperar profundidade e eficácia de uma Europa e de um Mercosul fragilizados.

*Com agências internacionais

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