26/09/2007Eleição na Argentina lembra mais a coroação de uma primeira-dama Alexei Barrinuevo
Em Buenos AiresFaltando apenas pouco mais de um mês para que os eleitores escolham um novo presidente da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, ou "Rainha Cristina", como ela é conhecida aqui, está fazendo jus ao apelido.
Nos últimos dois anos, Cristina Kirchner, que é senadora em Buenos Aires e mulher do presidente Nestor Kirchner, tem lidado com a sua tentativa de tornar-se a primeira mulher presidente da Argentina de uma maneira que lembra mais uma coroação do que uma campanha política.
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Cristina Kirchner e o presidente Nestor Kirchner durante campanha em Merlo |
Com uma invejável vantagem de 25 pontos percentuais sobre o rival mais próximo, Cristina Kirchner tem dado mais atenção à cobertura internacional das suas reuniões com banqueiros estrangeiros, dignatários de outros países e investidores na Europa e nos Estados Unidos do que às reportagens da imprensa local.
Nos últimos dois meses ela acumulou uma extensa milhagem em viagens ao México, à Espanha, à Áustria e à Alemanha. Nesta semana ela está em Nova York, onde o marido discursará na Organização das Nações Unidas (ONU).
O foco de Cristina Kirchner nas relações internacionais tem gerado críticas dos seus oponentes e de outros que afirmam que ela está ignorando convenientemente diversos problemas domésticos que ameaçam ser transmitidos ao sucessor do seu marido, independentemente de quem ganhe a eleição.
"Há um risco de que ela fique tão cativada pela política internacional e pelas relações exteriores que evite os problemas que se acumulam na Argentina", adverte Michael Shifter, vice-presidente de questões políticas da Inter-American Dialogue, um grupo de pesquisa com sede em Washington especializado em questões latino-americanas.
Entre os problemas com os quais o próximo presidente provavelmente se deparará estão a escassez de energia, um superávit orçamentário em queda e um índice crescente de inflação que, segundo vários economistas independentes, está atualmente acima dos 15% - quase o dobro do indicado pelas estatísticas oficiais do governo.
A pesada agenda de viagens ao exterior parece ser parte de uma estratégia dos Kirchner de dar início à segunda etapa de uma presidência compartilhada. Eleito em 2003 com apenas 22% dos votos, durante um período crítico da crise financeira argentina, o presidente Kirchner concentrou-se especialmente na política interna e permitiu que as relações da Argentina com os Estados Unidos e com aliados europeus cruciais sofressem um enfraquecimento.
Apesar do sucesso do governo em reverter o quadro econômico, ele preferiu não concorrer de novo, para, em vez disso, dar lugar à sua mulher. Os analistas dizem que, em vez de correr o risco de arcar com o status de "lame duck" (presidente meramente decorativo) em um segundo mandato de Nestor Kirchner, o casal decidiu que poderia se revezar no cargo, garantindo a presidência por pelo menos mais 12 anos. Os presidentes argentinos só podem ocupar o cargo por dois mandatos consecutivos, mas, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, não há impedimentos para que concorram de novo, quatro anos após deixarem a Casa Rosada, o palácio presidencial argentino.
Embora ninguém tenha conseguido realizar tal proeza antes, os Kirchner têm uma forte chance. Nestor Kirchner já contou com um índice de aprovação de quase 80%, e pesquisas de opinião realizadas nos últimos meses revelaram que ele ainda tem um apoio de mais de 50%, apesar dos diversos escândalos recentes de corrupção. O principal motivo para isso é o estado da economia, que recuperou-se do abismo em que se encontrava em 2002, e que cresceu em média 8% ao ano nos últimos três anos.
Oriunda da cidade universitária de La Plata, próxima a Buenos Aires, Cristina Kirchner, 54, é advogada e uma oradora talentosa, conhecida pela sua personalidade forte e pelo seu sólido histórico na área de direitos humanos, que remonta à época em que foi senadora em Santa Cruz, o Estado do seu marido, na Patagônia.
Fonte: Uol Notícias
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/09/26/ult574u7827.jhtm