quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Lula e Cristina divergem sobre papel dos EUA na região, diz 'Clarín'

19/12/2007 - 07h24

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Kirchner, manifestaram divergências em relação ao papel dos Estados Unidos na América do Sul em seus discursos durante a reunião de cúpula do Mercosul, em Montevidéu, segundo afirma reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário argentino Clarín.

O jornal diz que Lula e Cristina "revelaram ontem enfoques diferentes sobre o Mercosul, seus problemas e as pressões que sofreria o bloco, o que gerou um contraponto sobre o papel que jogam 'os interesses externos ao bloco', em óbvia referência aos Estados Unidos".

A reportagem observa que Lula argumentou que se a integração do Mercosul não avança com mais rapidez, a culpa "não é nem dos Estados Unidos, nem da Alemanha, nem de nenhum país de fora do bloco, mas de nós mesmos".

Cristina, por sua vez, disse discordar do presidente brasileiro e afirmou que "há fortes interesses externos", além de setores dos próprios países do Mercosul que "têm cegueira cultural sobre tudo o que é próprio e recebem de braços abertos as coisas de fora".

O jornal comenta que "Lula e seus colaboradores nunca demonizaram os Estados Unidos" e que o Palácio do Planalto e o Itamaraty sempre se referem a George W. Bush como "amigo".

A reportagem observa, porém, que "o cuidado com as expressões não se traduziu em subordinação", lembrando o papel do Brasil para enterrar a proposta da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), patrocinada pelos Estados Unidos, durante a 4ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, em 2005.

"Isso não impediu que Lula recebesse um dia depois do desastre a George W. Bush em sua residência de campo em Brasília. Quis evitar que a história fosse lida como um fracasso estrondoso da Casa Branca. O presidente norte-americano agradeceu que ele o tenha salvado do papelão", diz o texto.

O Clarín afirma ainda que "outro episódio ocorrido ontem revela que os brasileiros sabem exatamente seu lugar no mundo e na região", em referência à resposta de Lula ao pedido do Uruguai por mais flexibilidade dentro do bloco, que permitiria ao país negociar por conta própria com os Estados Unidos e com a União Européia.

"Muitos crêem que é melhor negociar com os Estados Unidos ou com a União Européia. Mas assim é muito difícil avançar. Temos que acreditar em nós mesmos e não nos de fora", respondeu Lula, no relato do jornal.


http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2007/12/19/ult4904u371.jhtm

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